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sábado, 14 de abril de 2012

Parmênides de Eléia

 
Nasceu entre 530 a.C. e 515 a.C. na cidade de Eléia, colónia Grega do sul da Magna Grécia na itália, cidade que lhe deveu também a sua legislação. Segundo Estrabão, foi graças à influência dos filósofos Parménides e Zenão de Eléia que a cidade foi bem governada, e o bom governo garantiu seu sucesso contra os Leucani e os Poseidoniatae, mesmo tendo Eleia território e população menores. Foi um dos representantes da escola eleática juntamente com Xenófanes, Zenão de eléia e Melisso de samos.
Parménides escreveu uma só obra, um poema em verso épico, do qual foram preservados fragmentos em citações de outros autores. Os especialistas consideram que a integridade do que conservamos é consideravelmente maior em comparação com o que foi preservado das obras de quase todos os restantes filósofos pré-socráticos, e por isso a sua doutrina pode ser reconstruída com maior precisão.
Apresenta o seu pensamento como uma revelação divina dividida em duas partes:
  • A via da verdade, onde se ocupa «do que é» ou «ente», e expõe vários argumentos que demonstram seus atributos: é estranho à geração e corrupção e portanto é inegendrado (incriado) e indestrutível, e é o único que verdadeiramente existe — com o que nega a existência do nada — é homogéneo, imóvel e perfeito.
  • A via das opiniões dos mortais, onde trata de assuntos como a constituição e localização dos astros, diversos fenómenos meteorológicos e geográficos, e a origem do homem, construindo uma doutrina cosmológica completa.
Enquanto que a via da opinião se assemelha às especulações físicas dos pensadores anteriores, como os milésios e os pitagóricos, a via da verdade contém uma reflexão completamente nova que modifica radicalmente o curso da filosofía antiga: considera-se que Zenão e Melisso aceitaram as suas premissas e continuaram o seu pensamento. Os físicos posteriores, como Empédocles, Anaxágoras e os atomistas, procuraram alternativas para superar a crise a que tinham sido atirado o conhecimento do sensível. Também a sofistica de Górgias acusa uma enorme influência de Parménides, na sua forma argumentativa.
Tanto a doutrina platónica das coisas como a metafísica aristotélica guardam uma dívida incalculável em relação à via da verdade de Parménides. É por esta razão que muitos filósofos e filólogos consideram que Parménides é o fundador da metafísica ocidental.
 Desde a antiguidade que se considera que Parménides escreveu uma só obra, intitulada Sobre a natureza. É um poema didáctico escrito en hexâmetros. A língua em que foi escrito deriva da expressão épica, utilizada no dialecto Homérico.

Seu pensamento está exposto num poema filosófico intitulado Sobre a Natureza e sua permanência, dividido em duas partes distintas: uma que trata do caminho da verdade (alétheia) e outra que trata do caminho da opinião (dóxa), ou seja, daquilo onde não há nenhuma certeza. De modo simplificado, a doutrina de Parmênides sustenta o seguinte:
  • Unidade e a imobilidade do Ser;
  • O mundo sensível é uma ilusão;
  • O Ser é Uno, Eterno, Não-Gerado e Imutável.
  • Não se confia no que vê.
Devido a essas , alguns veem no poema de Parmênides o próprio surgimento da ontologia. Ao mesmo tempo, o pensamento de Parmênides é tradicionalmente visto como o oposto ao de Heráclito.
Para alguns estudiosos, Parmênides fundou a metafísica ocidental com sua distinção entre o Ser e o Não-Ser. Enquanto Heráclito ensinava que tudo está em perpétua mutação, Parmênides desenvolvia um pensamento completamente antagônico: “Toda a mutação é ilusória”.
Parmênides vai então afirmar toda a unidade e imobilidade do Ser. Fixando sua investigação na pergunta: “o que é”, ele tenta vislumbrar aquilo que está por detrás das aparências e das transformações.
Assim, ele dizia: “Vamos e dir-te-ei – e tu escutas e levas as minhas palavras. Os únicos caminhos da investigação em que se pode pensar: um, o caminho que é e não pode não ser, é a via da Persuasão, pois acompanha a Verdade; o outro, que não é e é forçoso que não seja, esse digo-te, é um caminho totalmente impensável. Pois não poderás conhecer o que não é, nem declará-lo.”
Numa interpretação mais aprofundada dos fragmentos de Heráclito e Parmênides, podemos achar um mesmo todo para os dois e esta oposição entre suas visões do todo passa a ser cada vez menor.
Parmênides comparava as qualidades umas com as outras e as ordenava em duas classes distintas. Por exemplo, comparou a luz e a escuridão, e para ele essa segunda qualidade nada mais era do que a negação da primeira.
Diferenciava qualidades positivas e negativas e, esforçava-se em encontrar essa oposição fundamental em toda a Natureza. Tomava outros opostos: leve-pesado, ativo-passivo, quente-frio, masculino-feminino, fogo-terra, vida-morte, e aplicava a mesma comparação do modelo luz-escuridão; o que corresponde à luz era a qualidade positiva e o que corresponde à escuridão, a qualidade negativa. O pesado era apenas uma negação do leve. O frio era uma negação do quente. O passivo uma negação ao ativo, o feminino uma negação do masculino e, cada um apenas como negação do outro.
Por fim, nosso mundo dividia-se em duas esferas: aquela das qualidades positivas (luz, quente, ativo, masculino, fogo, vida) e aquela das qualidade negativas (escuridão, frio, passivo, feminino, terra, morte). A esfera negativa era apenas uma negação da esfera positiva, isto é, a esfera negativa não continha as propriedades que existiam na esfera positiva.
Ao invés das expressões “positiva” e “negativa”, Parmênides usa os termos metafísicos de “ser” e “não-ser”. O não-ser era apenas uma negação do ser. Mas ser e não-ser são imutáveis e imóveis. No seu livro: Metafísica, Aristóteles expõe esse pensamento de Parmênides: “Julgando que fora do ser o não-ser é nada, forçosamente admite que só uma coisa é, a saber, o ser, e nenhuma outra... Mas, constrangido a seguir o real, admitindo ao mesmo tempo a unidade formal e a pluralidade sensível, estabelece duas causas e dois princípios: quente e frio, vale dizer, Fogo e Terra. Destes (dois princípios) ele ordena um (o quente) ao ser, o outro ao não-ser.”
Quanto às mudanças e transformações físicas, o Vir-a-Ser, que a todo instante vemos ocorrer no mundo, Parmênides as explicava como sendo apenas uma mistura participativa de ser e não-ser. “Ao vir-a-ser é necessário tanto o ser quanto o não-ser. Se eles agem conjuntamente, então resulta um vir-a-ser”.
Um desejo era o fator que impelia os elementos de qualidades opostas a se unirem, e o resultado disso é um vir-a-ser. Quando o desejo está satisfeito, o ódio e o conflito interno impulsionam novamente o ser e o não-ser à separação.
Parmênides chega então à conclusão de que toda mudança é ilusória. Só o que existe realmente é o ser e o não-ser. O vir-a-ser é apenas uma ilusão sensível. Isto quer dizer que todas as percepções de nossos sentidos apenas criam ilusões, nas quais temos a tendência de pensar que o não-ser é, e que o vir-a-ser tem um ser.
Toda nossa realidade é imutável, estática, e sua essência está incorporada na individualidade divina do Ser-Absoluto, o qual permeia todo o Universo. Esse Ser é onipresente, já que qualquer descontinuidade em sua presença seria equivalente à existência de seu oposto – o Não-Ser.
Esse Ser não pode ter sido criado por algo pois isso implicaria em admitir a existência de um outro Ser. Do mesmo modo, esse Ser não pode ter sido criado do nada, pois isso implicaria a existência do “Não-Ser”. Portanto, o Ser simplesmente é.
Simplício da Cilica, em seu livro Física, assim nos explica sobre a natureza desse Ser-Absoluto de Parmênides: “Como poderia ser gerado? E como poderia perecer depois disso? Assim a geração se extingue e a destruição é impensável. Também não é divisível, pois que é homogêneo, nem é mais aqui e menos além, o que lhe impediria a coesão, mas tudo está cheio do que é. Por isso, é todo contínuo; pois o que é adere intimamente ao que é. Mas, imobilizado nos limites de cadeias potentes, é sem princípio ou fim, uma vez que a geração e a destruição foram afastadas, repelidas pela convicção verdadeira. É o mesmo, que permanece no mesmo e em si repousa, ficando assim firme no seu lugar. Pois a forte Necessidade o retém nos liames dos limites que de cada lado o encerra, porque não é lícito ao que é ser ilimitado; pois de nada necessita – se assim não fosse, de tudo careceria. Mas uma vez que tem um limite extremo, está completo de todos os lados; à maneira da massa de uma esfera bem rotunda, em equilíbrio a partir do centro, em todas as direções; pois não pode ser algo mais aqui e algo menos ali.”
O Ser-Absoluto não pode vir-a-ser. E não podem existir vários “Seres-Absolutos”, pois para separá-los precisaria haver algo que não fosse um Ser. Consequentemente, existe apenas a Unidade eterna.
Teofrasto relata assim esse raciocínio de Parmênides: “O que está fora do Ser não é Ser; o Não-Ser é nada; o Ser, portanto, é.

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